[ J. Vitor ]
Sou um construtor compulsivo; as edificações
da cidade se declaram diante dos meus olhos. Cada prédio erguido se mistura com
a massa da minha tapera. Sinto inveja irrefutável por perceber que a arquitetura é dividida
por tantos: pelos profissionais da construção.
A impressão vem no pensamento e mostra que meu
raso trabalho é igual à de uma formiguinha! Saio pelas ruas deste São Paulo. Caminhando
pelas avenidas o meu questionamento se perde nos bairros; filas de prédios
desfilam numa passarela de beleza surreal. Sinto-me orgulhoso e ao mesmo tempo pressinto que os meus dedos são
como velas e aos poucos, muito pouco não terá neles um fiapo de luz para talhar
uma decoração.
Sou um construtor imperceptível que mede as alamedas, que observa os recapeamentos
das ruas, as calçadas com topes de revestimentos, as árvores com espaçamentos de
covas iguais, trepadeiras cobr indo
os muros, vergas e arcos edificados em casas e prédios. Pergunto: Sou um construtor? Tenho dúvidas! Estou macambúzio. Sinto, sinto uma pitada de ciúmes quando
passo diante dos monumentos de Oscar Niemeyer.
Ah! Se ao menos eu tivesse a certeza de
presenciar mais uma década da minha própria construção…!
Percebo que sou comum e que o crescer da
cidade me deixa mui pequenino. É inevitável olhar o externo dos prédios; ocultamente
sei que dentro deles há cômodos e que suas paredes são fincadas no prumo, no
delinear de azulejos, pastilhas, tintas… Sinto-me ordinário por ser um artesão tão
pequeno e anão, e que no máximo, as minhas mãos somente tocaram no pão de cada
dia.
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