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terça-feira, 29 de maio de 2012

Perambular no tempo


Despertei insone          
a calma da noite caminhava habitual
o voal da cortina tremia  levemente
o forro por detrás mantinha-se acomodado,
e pelos vão da veneziana corria leve claridade.
Os minutos abriam-se preguiçosos,
o lençol desarrumara-se completamente na lateral da cama
o cobertor ainda preso pelas minhas pernas que já haviam dobrado para o lado de fora.
Sem ter esperança ou tentativa de sono, ergui o corpo,
Cacei os chinelos entre os dedos e me arrumei pelo corredor.
Cambaleando, segui no semi escuro, aprumando-me pelas paredes,
atravessei a sala, recolhi as bandas das portas; os trilhos embora silenciosos… gritaram aos meus ouvidos.
Agora estava ao beiral da varanda. Lá em baixo as ruas seriam ditas vazias se não fosse por uma criança ao meio fio da calçada. Sentava-se encolhida, descia em si uma blusa visivelmente suja. 
Seus braços rodeavam os joelhos, suas costas estavam dobradas sobre as pernas. Diria estar até mais ou menos protegida não fosse pelos chinelinhos entre os dedos. Enfumaçava a neblina quase que num choro de misericórdia.
Por instantes fiquei imóvel em tantas impossibilidades; busquei as horas num digital que havia na esquina da Alameda Santos, percebi naquele instante… dois andamentos de tempo: um tão lento como uma insônia; o outro perambulava numa necessidade de correr, correr, correr… 

de J.Vitor

Um comentário:

  1. "dois andamentos de tempo: um tão lento como uma insônia; o outro perambulava numa necessidade de correr, correr, correr…"
    É o paradoxo da vida: cruel e fascinante... lindo poema!

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