Despertei insone
a calma da noite caminhava habitual
o voal da cortina tremia levemente
o forro por detrás mantinha-se acomodado,
e pelos vão da veneziana corria leve
claridade.
Os minutos abriam-se preguiçosos,
o lençol desarrumara-se completamente na
lateral da cama
o cobertor ainda preso pelas minhas pernas que já haviam dobrado para o lado de fora.
Sem ter esperança ou tentativa de sono, ergui
o corpo,
Cacei os chinelos entre os dedos e me
arrumei pelo corredor.
Cambaleando, segui no semi escuro, aprumando-me
pelas paredes,
atravessei a sala, recolhi as bandas das
portas; os trilhos embora silenciosos… gritaram aos meus ouvidos.
Agora estava ao beiral da varanda. Lá em baixo as ruas seriam ditas vazias
se não fosse por uma criança ao meio fio da calçada. Sentava-se encolhida, descia
em si uma blusa visivelmente suja.
Seus braços rodeavam os joelhos, suas costas
estavam dobradas sobre as pernas. Diria estar até mais ou menos protegida não fosse pelos chinelinhos entre os dedos. Enfumaçava a neblina quase que num
choro de misericórdia.
Por instantes fiquei imóvel em tantas impossibilidades;
busquei as horas num digital que havia na esquina da Alameda Santos, percebi naquele
instante… dois andamentos de tempo: um tão lento como uma insônia; o outro perambulava
numa necessidade de correr, correr, correr…
de J.Vitor
"dois andamentos de tempo: um tão lento como uma insônia; o outro perambulava numa necessidade de correr, correr, correr…"
ResponderExcluirÉ o paradoxo da vida: cruel e fascinante... lindo poema!