Cap. ... 5
Passamos a ser visto como casal
equilibrado, ordenado da feracidade. Estávamos prontos, podíamos dissipar e entornar
os infortúnios, derribar e construir o que fosse preciso no porvir.
Eu saia para o trabalho... Os dias
passavam. No final do mês, um salário pequeno. Comprava para os trintas dias:
energia que acendesse as lâmpadas do candeeiro, água para o arroz e banho.
Mistura…! Uma vez por outra, chuchu,
ovos fritos.
Vivíamos com os olhos amarados.
O tempo em sua pressa seguia… a roda da
vida seguia… a expectativa de meses melhores era a alavanca da espera. Espera de
um saldo bancário maior e que um pouco daquele aperto atenuasse.
No caminhar do tempo, o saldo na conta
tornou-se maior. Porém um punhado do aperto continuou ainda se comia chuchu sem
carne, sem farinha; às vezes sem feijão. Contudo, o primor crescia, transforma-se
em determinação.
Era uma casa no meio de tantas, surgia
no detalhe de acertos, falta de tintas novas. Outras vezes carecia de
consertos, de telhas, de mais cômodos, e assim se fazia de época, de salário,
de cada oportunidade. Carecia do requisito do honorário, das horas extras, da
poupança sofrida.
O relógio de segunda a sexta feira
delegava seu horário programado. Saltava num sobressalto ajeitando-me na
beira da cama, erguia-me meio bambo apoiando a mão na parede do corredor
estreito, seguia sonolento até ao vaso, curvava os braços tocando os cotovelos
nas coxas. Apoiava o queixo nos punhos atendendo a deixa da bexiga e do rim
produtor aflito.
“os minutos que ali ficava” dava-me o
tempo de repensar:
Tudo se passa no recantar melafônico
da mente e do quando o coração age espontaneamente… jorra delírio, faz faiscar
o olhar, dá choque na alma, dá pancada na emoção e tudo se cria precioso de
querer, que de querer se ajeita no recôndito do gozo, vai se delinqüir com as borboletas.
Tem dias que faço diferente: acordo
contente, minutos antes do despertador; bolino a Maria. Ela acorda, sorri,
entende o fustigo, levanta, se ajeita e vem. Sabe que é dia de poesia, nestes
dias não existe simplicidade, não existe poesia mal feita. Toda poesia tem
começo, e é preciso terminá-la. E para terminá-la, leva-se a vida toda. Não importa
que se faça uma, duas, três estrofes a cada dia.
Tem dia que simplesmente passa evasivo. E
os motivos…! Por muitos: a criança quer a mamadeira, o telefone inoportuno toca,
o cão que chorou a noite toda ainda rosna. E por tudo, não se fez um verso de
poesia.
Não importa! O dia é o sucesso da noite,
á noite continuação de poesia.
Dizemos um ao outro — amor! Não terminamos
nossa tarefa. — Lembras, estávamos nesta manhã ausentes; colhíamos amora para a
torta da tarde...
Inesperados, não ceifamos o necessário. —
Que me dizes de voltarmos às moitas...
Assim mais à noite, eu preparo as frutas; tu terminas as poesias...
…Nos dias iguais, vou a fabrica,
achego-me nas máquinas, ajusto-a para fabricar armários, convirjo projetos
diversos, encontro o vizinho na feira, compro peixes...
Nos dias diferentes, faço as mesmas
coisas:
Vou ao cinema, alugo fitas; às vezes
convidam-nos para casamento.
“A diferença é que nestes dias pauso a
poesia...”
de J.Vitor
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Vedada a criação de obras derivativas 2.5 Brasil License.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Amigos para sempre