Deixei descansar
o riso
Para socorrer um
companheiro aflito
ele passeia na
sombra da minha chapeleira
e se queixa.
Tentei consolá-lo.
ele é aquele que
pernoita comigo e chora oculto,
sonha pronomes e
às vezes faz poesia inculto.
Abrir-me-ei para
falar dele
Pelo fato de
vê-lo esquivo dentro do véu.
Sei dele assim como
sei de mim e
o chinelo lhe
vem aos pés,
Leva-o pelo
corredor da casa e
na sala
arreia-se no sofá.
- Serei
hipócrita se disser “não tenho pena”.
Serei leal se
disser “chorei com ele”.
Perguntei-lhe a
magoa:
a mim respondi
— sou um peixe
de aquário:
de manhã a casa
acorda,
passam pelo
vidro sem dar bom dia a tal ornato.
Deixarei à parte
esta aspereza!
Falarei da
sutileza;
a mesma que
envaidece,
a mesma acuidade
que se aprove de compreender;
que empurra
quando para na virgula,
que ajuda quando
se erra o ponto e
toma um bonde
interrogativo!
Destes feitos
falarei!
não do homem
furtivo,
das noites
vagas,
do corredor
sombrio.
Nada mais
ofusca-me o brilho
a muito me perco
em noites caladas
em madrugadas
sem companhia.
Agora, mesmo que
queira me esquecer,
viverei de
prestezas.
Digo ainda: a
água ácida me faz bem;
faz transparecer
brilho na escama,
as guelras
ganham cor e a brânquia fala de amor.
O que me vale
vir a tona — se moro no coma?
- Sou um peixe
deste translúcido lugar!
J.Vitor
Gostei muito !!!
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