J. V. Lemes
Estou sozinho no meu armarinho de
panos…
Só eu e o meu terno!
Meu velho terno príncipe de Gales tem
sido meu companheiro.
Quando chego ao fim da tarde,
além da canseira e dos pés doidos,
meu pensamento geme, estou sozinho!
Atino um copo com gelo,
derramo whisky até ao nível do
desespero.
Nem o telefone toca,
ainda que por engano.
No apartamento do lado!?
Não ouço o mínimo ruído,
no de cima!?
seus ocupantes devem ter saídos
de férias, estou sozinho!
Sinto-me como se fosse um combatente
numa trincheira, acuado,
sem posse de respiro,
sufocado,
sem ação,
sem ser dono de um menor gesto.
Até a minha companhia passa a ser
incômoda.
Penso!
Se eu tivesse um pouco mais só,
um pouco mais sem coração,
um pouco mais sem as lembranças,
sem às vezes em que Maria agitava as
louças,
ralhava com os netos,
perfumava a cozinha com cheiro de café…
Ahhh!! Então repenso!!!
Me ergo da poltrona e percebo que jamais
estive sozinho.
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Amigos para sempre