Trecho de memórias póstumas de Brás Cubas
Apreciem:
“— Amas-me”?
— Oh! Suspirou ela, cingindo-me os braços ao
pescoço.
Vigília amava-me com fúria; aquela resposta
era a vontade patente.
com os braços ao meu pescoço, calada,
respirando muito,
deixou-se ficar a olhar para mim, com os seus
grandes e belos olhos,
que davam uma sensação singular de luz úmida;
eu deixei-me estar a vê-los, a namorar-lhe a
boca,
fresca como a madrugada, e insaciável como a
morte.
A beleza de Vigília tinha agora um tom
grandioso,
que não possuíra antes de casar.
Era dessas figuras talhadas em pentélico,
de lavor nobre, rasgado e puro,
tranquilamente bela,
como as estátuas, mas não apática nem fria.
Ao contrário, tinha o aspecto das naturezas
cálidas,
e podia-se dizer, que, na realidade, resumia
todo o amor.
Resumi-o, sobretudo naquela ocasião,
em que exprimia mudamente tudo quanto pode
dizer a pupila humana.
Mas o tempo urgia; deslacei-lhe as mãos,
peguei-lhe nos pulsos, e, fito nela
perguntei-lhe se tinha coragem.
— De quê?
— De fugir.”
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