Não havia ninguém em casa. Entrei estrebuchando pelos cantos do
corredor.
Agachei-me contorcido pelo piso. Agoniado,
consegui me prover de um copo com leite, pois pensava que iria remediar a dor súbita
que estava sentindo. Que terrível engano! Tornei a me pinchar no chão e passei o
martírio de uma formiga que vive o estouro de uma boiada, atônita a
formiguinha ergue a mandíbula olha para cima e enxerga a invasão dos monstros…
A terra treme, e por sorte, o destino das passadas
vai se abrindo e permitindo que por instantes ela escape de ser pisoteada. Mas
nem tanto, somente a sensação da pequenez é o suficiente para que ela sinta-se
com as perninhas destroçadas do tórax e o abdome macetado entre capim e esterco…
Percebe a vida escapando por segundos.
Debaixo daquelas estacas de pernas bovinas, somente
lhe cabe inocentes culpas, pois, imagina-se num pecado humano e na insensatez
de ter roubado da geladeira, o tal copo de leite. Portanto agora, imagina que nas
próximas passadas, a manada lhe fará cobrança por tê-La como cúmplice de ordenhadores
que bolinam as mamas das vacas!
E eu, jogado na cólica, vivenciava o
desespero da tal formiguinha, como se naquele pasto invadido pela
boiada fosse sobre meu corpo.
É como se as
vacas tivessem fazendo um acerto de contas e readquirindo o suco do seu corpo, e
então, preparava vingança pelo atrevimento de a terem tocado nos bicos e deles
lhe tirarem o leite que a humanidade rouba.
Passando pelas agruras, aquele copo com leite, aumentava a dor que eu
sentia numa penitência impagável.
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